arte em forma de prece

"Bocó é sempre alguém acrescentado de criança"

- Manoel de Barros -

Por Duda Araújo

A relação de um admirador com o seu ídolo não é algo que pode ser racionalmente explicado. Mas, acho bonito quando uma pessoa recebe o status de ídolo pelas delicadezas que desperta na gente. Acontece assim entre Vanessa da Mata e eu. A arte dela desperta em mim apenas coisas da ordem das miudezas. É como ser criança outra vez. Brigadeiro de panela. Esconde-esconde. Tesouro no final do arco-íris. Banho de mar. Flor só de bem-me-queres. Bolo de chocolate. Pipoca e guaraná. Férias. Mancha de azeitona rocha na barra da saia. Nuvens de algodão doce. Algodão, doces nuvens. Acontece assim: sonhos e felicidades depositados em grãos, a cada nota musical, sol. Ao ouvir Vanessa, entro em contato com o que há em mim de mais humano, na acepção mais livre da palavra. Talvez seja porque nós temos a mesma vontade de ser leve, o mesmo empenho em abraçar a vida. Acho mágico. E agradeço. Cada vez que a escuto, improviso algum tipo de oração, respiro fundo, e digo: "amém". Sua arte é tão bonita quanto uma prece.